sexta-feira, novembro 23, 2007

Bruno Zevi -Saber ver a Arquitectura



Ao falarmos de arquitectura tendemos a imaginar fachadas ornamentadas típicas de um estilo, materiais em consonância com as diferentes épocas e em modelos que nos são fáceis de reconhecer característicos de uma cultura específica. Porem no estudo da arquitectura não é o aspecto ornamental que se caracteriza como o elemento primordial cabendo este papel à mais elementar matéria moldável o “Espaço”.
Assim vemos que o estudo da arquitectura tem vindo a ser descurado ao longo dos tempos visto que este, ao contrário de outras artes como a pintura ou escultura que se baseiam na modelação de matérias plásticas sólidas, se torna por vezes ambíguo para o cidadão comum pouco habituado a definir algo que não seja palpável ignorando normalmente o espaço na sua forma.
O espaço é esse mesmo vazio que de uma forma natural começou por ser preenchido por massas que agrupadas formaram planetas e estes à sua superfície uma plataforma com força de gravidade contida de matérias como a água terra e ar, ou seja com montanhas, vales e rios e com a necessidade que o homem teve de criar abrigos para si, de se proteger ou de guardar, desde que passou à condição de recolector começou a organizar seu espaço a delimitando-o à sua melhor maneira concebendo fechar pequenos espaços a fim de ai habitar plantar ou guardar ou utilizar com qualquer fim apenas uma porção de espaço à sua volta onde até aí apenas as barreiras naturais como os rios ou montanhas ou floresta atrás citadas organizavam a natureza
Das primeiras acções directas sobre o espaço até a sua organização para usufruto de um conjunto de indivíduos chegamos às primeiras povoações e a nossa história chegou à era moderna onde já quase nada resta de inalterado pela mão do Homem, ao ponto que quase tudo e todos terem já influído sobre o espaço estando por toda a parte dispostas e organizadas as estradas, pontes e as grandes cidades que foram muitas nascendo como cogumelos à medida da necessidade do Homem. E assim foram acontecendo acidentes de percurso por falta de habilitação na organização desse espaço na forma como se construiu, destruiu, organizou e reconstruiu por não atenderem a princípios ou qualidades arquitectónicas puras.
A arquitectura vive do espaço porque o utiliza como material e nos coloca no seu centro delimitando e destacando espaço para viver, percorrer e sentir.
Em arquitectura influi sobre o valor espacial o modo como este joga com os sentidos sugerindo Movimento, Equilíbrio, Simetria, Assimetria, Continuidade, ou Ênfase sendo também os sentidos influenciados por condicionantes diversas como a luz as sombras e as dimensões ou escalas.
O carácter de um espaço leva a vista por vezes a percorrer uma perspectiva criada por alinhamentos de colunas paredes ou caminhos sugerindo assim movimento que acaba cessando por vezes em algo mais que satisfaça ou cesse esse mesmo movimento até porque um movimento que não conduza a nada é um movimento sem razão que desumaniza o espaço e como tal também na arquitectura, se podemos jogar com o equilíbrio em que as partes não se destaquem particularmente do todo nem convidam a um sentido único de movimento, também se pode enfatizar uma parte especifica “num centro de interesse visual, um ponto focal que prenda a vista”.
A proporção dos espaços entre si sabendo que espaços fechados e pouco amplos criam sensações desagradáveis para o homem que em geral não gosta de espaços apertados e fechados podendo mesmo criar fobias em relação a tais, o modo como se subdivide o espaço ou mesmo a urbanidade ou a relação harmoniosa entre os vários espaços quer nas escalas ou na forma e função das estruturas edificadas e na sua relação com o meio envolvente também contribuem para o equilíbrio.
De outro modo também a luz e a sua orientação tal como a cor animam o espaço podendo ser em alguns casos um valor de atracção por si próprias ajudando a dividir ou realçar determinado espaço.
Contudo a liberdade do artista criador não se prende obrigatoriamente em qualquer norma ou conceito pré estabelecido, este através da sua imaginação e tendo em conta que cada caso é um caso define as suas prioridades e cria em consonância com a sua própria personalidade, e daí fruto dessa diversidade, podemos hoje em dia debater opiniões e avaliar obras em relação a qualquer dos factores arquitectónicos atrás citados.

2 comentários:

Anónimo disse...

very nice

Olhaoutro disse...

"...A proporção dos espaços entre si sabendo que espaços fechados e pouco amplos criam sensações desagradáveis para o homem que em geral não gosta de espaços apertados e fechados podendo mesmo criar fobias em relação a tais..."
Concordo plenamente, os espaços públicos não se podem limitar a mamarrachos, que simplesmente oferecem serviços sociais essenciais ao nosso quotidiano.Precisamos de espaços que atraiam as pessoas a sair de casa, para que possam viver a cidade e a partilha-lha com a sociedade.Somos parte integrante da Natureza e a relação com ela tem que ser constante para a nossa sanidade mental e física.

Nicolas Peres