sábado, junho 17, 2006

Estudo Urbanístico de Vilarinho da Castanheira - Carrazeda de Ansiães

Publicar mensagem A aldeia de Vilarinho da Castanheira, que já foi vila sede de um concelho medieval. Pertence ao actual concelho de Carrazeda de Ansiães, de cuja vila dista cerca de quinze quilómetros para Es-Sudeste, afastada dos grandes centros urbanos. Situada para Sudeste do concelho, paredes meias com o concelho de Torre de Moncorvo e fazendo limite com a freguesia de Lousa, Vilarinho está na encosta de um Monte onde tem o seu Santuário da Senhora da Assunção, estendendo-se para Nordeste, numa zona planáltica. Fica na margem direita do Douro, onde possui bons terrenos agrícolas de rendimento económico.

(Adaptado de:




Este estudo insere-se no programa da disciplina de Urbanismo do curso superior de Arquitectura pela escola superior artística do porto (ESAP).

O método aplicado neste estudo consistiu, numa primeira fase num levantamento de informação imediatamente disponível que se baseou em páginas de Internet respeitantes ao concelho de Carrazeda de Ansiães, mapas e fotografias diversas e pesquisa bibliográfica de estudos monográficos ou arqueológicos da região, procurando estabelecer uma linha de tempo dos acontecimentos marcantes na região desde o inicio da sua povoação e dessa recolha, quanto ao povoamento diz respeito este, “deve ser anterior à formação de Portugal (séc. XII), já que existem por ali antas pré – históricas por um lado, e por outro o facto de muitos historiadores defenderem que a povoação se terá fundado sobre um castelo ou castro (possivelmente celta ou pós celta) que ali havia, onde mais tarde se constrói o castelo de Vilarinho. “In (Conheça a nossa terra – Carrazeda de Ansiães)


Sabendo tal e procurando antever o aspecto geral da vila pelos seus pontos marcantes constatei que o castelo já não existe,“são praticamente inexistentes, vestígios estruturais. O crescimento do núcleo urbano da actual aldeia acabou por destruir os indícios materiais da estrutura castelar e da sua planta nada se sabe, os únicos vestígios actualmente visíveis resumem-se a alguns entalhes patentes no afloramento granítico onde outrora assentaram antigas construções…” adaptado de António Luís Pereira, património arqueológico do concelho de Carrazeda de Ansiães, assim sem castelo , mas com a certeza que tendo sido vila aqui tenham ocorrido factos relevantes a nível regional constata-se que foi concelho medieval com alguma importância mesmo em termos populacionais de onde estrategicamente se defendiam o planalto da Lousa e a região do Castedo planalto e a serra de seixo de Ansiães durante e após a reconquista cristã .

A aldeia pode ser descrita como uma localidade isolada no cume de um monte à qual se acede por uma estrada municipal pelo lado norte ligeiramente aplanado. Na entrada da vila está localizada uma” travessa da fonte” e mais á frente um “largo do pelourinho” onde justaposto está um pequeno monte pelo qual irrompe a rua do castelo.
Quase todas as casas são de pedra de granito (material abundante na região), apresentando algumas sinais de precariedade e outras adaptações que as foram tornando habitáveis até hoje, destas muitas foram rebocadas, ampliadas ou serviram de anexos a novas habitações construídas já neste século pois os seus materiais constitutivos assim o indicam.
Numa análise imediata dos aspectos vernaculares de construção verifica-se a presença de padieiras e ombreiras em pedra aparelhada (por vezes com um recorte curvo na padieira) com acesso lateral por escada e telhados de uma ou duas águas em telha caleira e mais recentemente de telha Marselha em asnas de madeira.
A tipologia é por vezes repetida mesmo em casos mais recentes.
Foi igualmente possível com a colaboração de um habitante (não identificado) fazer um percurso guiado pelos pontos de referência ainda não reconhecidos.

Foram–me mostradas duas casas brasonadas, a antiga cadeia, a igreja principal e alguns dos vários “passos “ que assinalam o percurso e as paragens das procissões religiosas.
Com a vista cheia e com muitas interrogações a fazer voltei-me para uma análise histórica dos povoamentos da península desde a pré historia procurando filtrar os acontecimentos marcantes a nível de ocupação e desenvolvimento em geral e em particular os que respeitam a esta região.

Esta, é composta por vários aglomerados dispersos em forma de aldeias que se desenvolvem em pontos particulares como cumes mais altos dos montes, encostas para os rios tua e douro ou encostas aplanadas para alem de os próprios acessos entre aldeias favorecerem o aparecimento de outras em pontos intermédios.
Em qualquer dos casos haverão sempre factores, como a presença de fontes ou terras irrigadas com capacidade de produção agrícola, condicionantes da própria actividade económica sustentadora do local.
Assim segundo consta, esta povoação já desde tempos remotos explora os solos das suas encostas em especial a vertente a nascente pois nesta encontra-se o caminho que pelo vale segue para o Douro. Também ao longo deste vale corre um ribeiro onde se encontram antigas azenhas e uma ponte dita romana.
Ainda que por aqui próximo existam vestígios de ocupação anterior à época romana, será com esta civilização que desenvolverá a formação deste aglomerado.
Encontrei por cá algumas construções com arcos de volta perfeita como a pós denominada fonte da Urraca e a igreja de santo António para alem de dois relógios de sol com numeração romana.
A própria toponímia “castanheira” influi para a existência de cultivo desta mesma espécie trazida pelos romanos para a península tal como a oliveiras e a vinha.
Estes aspectos serão reflexos de uma actividade económica de exploração destes recursos levando à existência de estruturas para a sua transformação tais como lagares e impulsionam provavelmente o seu comércio em feira.
Já em plena época de reconquista creio que numa primeira fase se terá mantido a muralha da fortificação em volta da qual se terão desenvolvido os arrabaldes na direcção sueste pois esta é atravessada ainda pelo principal acesso ao douro por onde segundo relatos de habitantes da aldeia sempre existiu uma rota comercial de gado bovino, cereais, azeite, cestaria e vinho.
Numa época de reocupação incentivada com regalias por cá surgiram alguns senhorios e como fazem constar as histórias em volta de uma eventual asilo temporário a dona Urraca de Castela. Assim se conclui que pelo menos um senhorio se haveria aqui estabelecido.
Por volta desta época se terão condensado as habitações próximas ao núcleo expandindo-se depois para nascente e a produção económica do lugar crescido consideravelmente pois em 1218 d Afonso II concederá o primeiro foral a Vilarinho da Castanheira.
A contra reforma chegou a esta região sob a forma de novas igrejas e passos que assinalam o percurso da Via Sacra que já percorre novos arruamentos e o circuito desta procissão começa na rua da cadeia na Igreja Matriz de S. Sebastião passando junto à fonte do mergulho em direcção à ermida da Sra. da Fé voltando pela sua rua direita e rossio entrando novamente na rua da cadeia.
Este percurso demonstra a existência de marcos significativos nos arruamentos por onde passa e se rezavam as Ladainhas. Na Baixa Idade Média estariam já traçados novos arruamentos ao longo dos quais surgiram novas capelas e igrejas.

Na zona sul da localidade, localizam-se as casas da plebe, com um carácter pobre em granito tosco constituindo pequenas cintas de arrabalde em volta do perímetro da feira e muralha, estas casas dispõem-se também ao longo do acesso que do douro faz ligação ao núcleo sendo provavelmente uma das rotas de mercadorias vindas deste rio.
Esta zona é hoje conhecida como o fundo de vila ou bairro de santo António e é onde se localiza aquela que julgamos ser a a igreja mais antiga no cruzamento com a rua que circunda o núcleo até ao largo do pelourinho assumido como o rossio.
As razões para se assumir este largo como rossio (que na ausência de uma eventual câmara se supõe ter sido ser o centro cívico do local) são o facto de se notar uma distribuição enraizada para pontos notáveis como as fontes, a estrada que atravessa a aldeias e a que acede ao castelo.
Nesta última, a chamada rua do castelo (antiga rua direita onde as casas se sucedem acompanhando a altimetria e a organicidade desta) surge um outro arrabalde e mais à frente uma bifurcação, uma via levando à possível porta do castelo e a outra, à feira.
Na vertente Este do monte onde se situa Vilarinho, localizam-se os principais edifícios religiosos e públicos que regulavam a comunidade. Constam nesse rol a cadeia, quatro casas ou solares brasonados, a antiga escola primária e a casa do padre. Assim segundo o habitante da povoação que descrevem a povoação em quatro bairros o mais nobre e fidalgo será o chamado “bairro da cadeia “.

Segundo inscrições diversas nas padieiras de alguns edifícios, para além do próprio estilo adoptado nas decorações das igrejas é possível datar esta expansão até ao século XVIII, altura em que a vila atinge o seu pico de crescimento.
Ainda que se note uma certa influência espanhola quanto ao feitio e posição (centrado) dos campanários das igrejas elas obedecem a uma norma barroca.

O crescimento foi todavia acompanhado pelo desmembramento do castelo do qual se aproveitaram as grandes pedras de cantaria que constituem a maior parte dos edifícios notáveis e mesmo a população em geral desse facto tirou proveito já que muitas habitações apresentam ornamentos em pedra descontextualizados do seu lugar original tal como uma estela funerária numa parede acrescentada ao edifício da cadeia, hoje transformado em habitação e uma outra escultura de significado ambíguo, representando uma serpente usada como padieira, estes hábitos são todavia comuns e nota-se que por toda a região se dão aproveitamentos deste género.
No ultimo século a povoação tem vindo a expandir-se pela estrada que liga a vila flor e ao longo desta cresceram outros serviços como a casa do povo e junta de freguesia, a nova escola primária, e os lagares já obsoletos mas com uma imponência que demonstra da sua utilidade passada. Também algumas habitações para lá da Sra. da fé são já construídas em alvenaria com estrutura de betão armado e iniciam o próximo passo no “crescimento” estagnado da antiga vila.

Da análise feita focando duas épocas distintas da vida desta localidade se constata que o crescimento que esta teve em dez séculos ameaça agora regredir. Vilarinho da castanheira é hoje tal como a generalidade das povoações vizinhas uma aldeia envelhecida.

Outrora com condicionante favoráveis ao seu crescimento como a fertilidade do planalto, a proximidade relativa ao douro (actuando como entreposto comercial) e mesmo a posição estrego-militar viu perder o seu foral em 1853 por razões politicas e com a modernidade à porta foi ficando isolada no monte.
Ainda na ressaca da perda dos seus serviços públicos, (Outros pólos haviam crescido), Vilarinho da Castanheira encontrar-se-á descentralizado sem grande proveito da antiga rota comercial esquecida em favor dos novos e melhores trajectos que por ali não passam.
Mais tarde surge ainda a emigração massiva, tal como em praticamente todo o distrito de Bragança, e o pouco progresso que a antiga vila irá ter (e tem tido) é vindo de fora espontaneamente e será este a deixar marcas para o futuro.

Bibliografia

· AGUILAR, José - Carrazeda de Anciães e seu termo, Esboço e subsídios para uma monografia, Colecção Silva Pereira, 1980
· FERREIRA, Cândida Florinda -Carrazeda de Ansiães (notas monográficas) col. Silva Pereira
· SOUSA, Fernando in alto Douro superior.
· Grande enciclopédia Portuguesa-Brasileira
· Dicionário enciclopédico das freguesias 3º volume
· PEREIRA, Luís e LOPES, Isabel Alexandra Justo – Património Arqueológico do Concelho de Carrazeda de Ansiães, ed CMCA
· TAVARES, Virgílio – conheça a nossa terra Carrazeda de Ansiães
· ALVES, Francisco Manuel –memorias Arqueológico-históricas do distrito de Bragança (vários volumes)

Siza Vieira - algumas considerações

Siza Vieira

O primeiro impulso criativo surge após o confronto com o lugar .A sua especificidade, o seu potencial, as suas qualidades ou defeitos procuram nas mãos do mestre a transformação necessária para o programa desejado. Não só o lugar tem algo a dizer, como também o homem que o usufrui tem as suas expectativas em relação a este.
O seu método de ataque a uma primeira ideia, nasce no bico do riscador e é nessa extensão do cérebro e da nossa mão ,que como bengala estruturadora nasce uma possibilidade ,ou embrião de ideia que fica comprovada ou aponte para metamorfose no bloco de notas ,Aparelho de pesquisa.
O projecto tem vida própria e identidade própria e um desígnio também próprio. Uns nascem para serem humildes sem perturbar o gosto, cumprem objectivos como o “de passar ao lado “, outros nascem em berço de ouro com expectativas de afirmação outros mirram na vulgaridade chegando por vezes mesmo a abortar.
Quanto à palavra “ monstro “ esta tem semânticas oponíveis.


Ao arquitecto que não querendo então, deixar teoria escrita, remete este papel aos críticos que dela vivem mas que soube apontar caminhos, resta agradecer e apreciar
Aceitar ou compreender estes, gera uma empatia, um entendimento de como devem e podem ser as opções num projecto global. Este não sendo conservador age como o acrobata que só avança em passos seguros.
Um dia alguém trará algo novo, seja uma condição ou um desejo que poderá ajustar uma rota ou criar um novo rumo. Esta ressalva é a porta da evolução que indica aperfeiçoamento ou um passo Maior.
Mudam-se os tempos mudar-se-ão as necessidades do homem.
Interessa dizer que, responsavelmente,”não expõe demasiado as tábuas dos nossos barcos pelo menos em mar alto”,”as suas enseadas são porto seguro “onde estuda correntes e remoinhos”. O barcoA sociologia tem como objecto segundo Simmel as formas sociais e grosso modo, o antropólogo tem o Homem, o urbanista as vivências do espaço ou o ecologista o meio ambiente.
A arquitectura tem o espaço e neste tudo se concentra, propõe-se uma abordagem Pluridisciplinar respondendo a várias exigências. Tem uma macro escala de especificidades e não raras vezes poderemos encontrar Siza imiscuindo-se por ai tornando-se cada vez mais poderoso. A experiência e a diversidade são a suas armas.

As Tensões e Estímulos vários influem na criação e depois na Racionalização da ideia – transformação com sentido de adaptação, tratando-se sempre de um caminho lúcido
Durante a fase de Criação, o cérebro nunca descansa, enquanto procura um “clique”.Se eu prefiro momentos de choupana pois é na introspecção do meu espaço pessoal, que se propõe o trabalho (por vezes, nas viagens de metro revendo os pontos das matérias do dia, surgem respostas inspiradoras)
É uma coincidência e por acaso, as viagens curtas mas um esquiço de dois minutos representa potencialmente o que eu quiser. o desenho é um instrumento versátil e quantas ideias não foram já discutidas em guardanapos de papel .
Quanto a 74 foi um momento único, Normalmente , apenas as catástrofes geram a necessidade de intervenção massiva da mão do arquitecto ,não houveram ai escombros que se vissem . estes foram de carácter diferente. Dificilmente haverá em Portugal num futuro próximo uma necessidade extrema de construção.
Temos também na geração de Carlos Ramos um impulso na modificação de programas académicos com vista dotar as novas gerações de arquitectos da capacidade de nova abordagem à arquitectura Tentou dota-la do pragmatismo exigível. assim dificilmente afundará, navegando na coerência com o timoneiro omnipresente.

sexta-feira, abril 28, 2006

sábado, abril 08, 2006

Arquitectura Vernácula - Aldeia da Lavandeira (Trás-os-Montes)

ESCOLA SUPERIOR ARTÍSTICA DO PORTO /CURSO SUPERIOR DE ARQUITECTURA /CONSTRUÇÃO I

ARQUITECTURA VERNÁCULA EM TRÁS-OS-MONTES, LAVANDEIRA

PORTO 2005


Introdução :
O objectivo primordial deste trabalho é a constatação e compreensão por parte dos alunos do conceito de Arquitectura Vernácula e tudo o que este suporta.
O nosso grupo de trabalho optou por fazer uma análise destas estruturas no nordeste português, mais precisamente a aldeia da Lavandeira situada no concelho de Carrazeda de Anciães, distrito de Bragança, tendo por base uma pesquisa bibliográfica e pela visita ao local.
A Lavandeira é profundamente caracterizada pela Arquitectura Vernácula, a qual aqui se tornou num dos mais significativos e relevantes aspectos da humanização da paisagem. Na sua grande diversidade de tipos, evidenciam-se numerosos condicionalismos fundamentais ligados às áreas e grupos humanos que a constroem e habitam.
Desta forma, é óbvio que este tipo de arquitectura se pode considerar um produto imediato das relações do homem com o meio natural que o rodeia.


Arquitectura Vernácula
A Arquitectura Vernácula remete-nos para um tipo de construção intimamente ligada ás actividades e características de determinada comunidade, tendo como base meios construtivos, materiais, costumes tradicionais e características geográficas da região.
Estas construções são parte de um processo de adaptação contínua da identidade de uma população ás respostas das suas necessidades. Assim, assume um carácter de sabedoria popular que sobrevive pela transmissão de conhecimentos de geração em geração, com raros recursos a registros escritos.
Com a crescente evolução económica e as constantes mutações dos grandes centros comercias e urbanos as construções vernáculas encontram-se hoje em dia, mais evidentes em meios rurais que sofreram pouca influência exterior. Estas áreas são habitadas fundamentalmente por populações envelhecidas que já pouco podem fazer para a sobrevivência destas estruturas, que se encontram na sua maioria ao abandono. Tem-se assistido, contudo, a algumas tentativas de reanimação desse espírito, com fins essencialmente turísticos sendo o nosso local de estudo, um desses muitos exemplos, onde as estruturas vernáculas se mantêm como principal testemunha da humanização/ocupação inicial de certas áreas, que se encontram hoje ao abandono.
Construções

Na generalidade, a casa típica da zona nordeste (que alberga o distrito de Bragança), é uma consequência de uma circunstância social, cultural e económica.
Sendo uma zona fundamentalmente rural, onde as comunidades vivem intensamente a ideia de “aldeia” e inter-ajuda, também as construções transmitem essa proximidade. “As casas agrupam-se em bloco compacto, vetustas, contíguas e quase misturadas umas nas outras, a emergir da rocha natural, à face dos rudes arruamentos da aldeia.”

Este género de estruturas apresenta-se em planta rectangular, de dois pisos, sustentados por um “aparelho de pedra”. Diferenciando-se como uma versão mais rude, arcaica e pobre da casa do noroeste, esta casa é composta por “dois pisos funcionalmente distintos”: o rés-do-chão térreo destinado à corte do gado e a parte superior (1º andar/piso) destinada à habitação. Era frequente também o aproveitamento dos declives do terreno para a estruturação dos dois pisos.
A evidência dos dois pisos levou necessariamente à construção de escadas (exteriores_ não havia, portanto ligação interior entre os dois pisos) que se apresentariam em granito, na fachada frontal, paralelas à construção. Estas escadas levariam, desde o piso térreo (rua) até a um género de patim em frente da entrada para o piso superior, criando por vezes um género de alpendre. Em algumas casas, de famílias mais abastadas, surgem mesmo algumas varandas .
As casas eram em pedra , sendo o granito material dominante, permitindo assim, em algumas situações, primores insuportáveis por outros materiais. As paredes exteriores e interiores consistiam em toscos muros de pedra solta, sem qualquer recurso a argamassa ou reboco. Encontram-se também situações onde as divisões interiores são feitas a partir de “estruturas precárias de madeira”, sem a utilização de qualquer acabamento.
As coberturas são actualmente de telha caleira, disposta em uma ou duas águas , tendo sido em tempos, utilizado o colmo. Assim se explica a existência de “capeados horizontais, (nos remates das paredes laterais), salientes na face exterior, que desempenha o papel de beiral e representa um sistema antigo de assentamento da palha”. Surgem raramente situações de duas águas. As telhas são convencionalmente assentes sobre uma estrutura de réguas de madeira.
As aberturas são raras. A porta é normalmente de um só batente e as janelas resumem -se a simples portadas de pau, sem qualquer vidraça. Que só vieram a ser usadas posteriormente.


Ao contrário da casa típica do nordeste transmontano ,a casa da Lavandeira apresenta-se como uma casa térrea, bem “agarrada ao chão”, que parte de uma planta quadrangular de pequenas dimensões e de apenas um compartimento, havendo normalmente divisórias feitas de tábuas, “isolando um ou outro recanto.”
A divisão de maiores dimensões (por onde era feita a entrada) era dedicada a funções como a alimentação (confeccionar e comer) e o aquecer junto à lareira. Sobre esta existia uma chaminé rudimentar, constituída por um simples buraco no telhado, rodeado superiormente por telhas ao alto e inclinadas de forma a encontrar os topos, saindo o fumo pelas duas extremidades.
Dominava sempre a simplicidade do traço, a míngua de conforto e de espaços privados, a companhia do frio e do vento, a pobreza e a escassez de móveis e de cheiro de civilização, era a constante comum ” . Aliás, esta situação neste tipo de estruturas surgiam como um reflexo da economia e actividades locais, (caracterizadora de uma classe trabalhadora pobre), bem como dos próprios recursos da zona.
Recursos, esses, que vão condicionar todo o tipo de construções. O solo rico em granito levava evidentemente à utilização deste material nas habitações. Nas suas construções. O granito aparece por todo o lado, nas ombreiras e padieiras das portas e janelas devido à sua maior resistência, dimensão e durabilidade. Quando não é possível arranjar granito, as padieiras de portas e janelas apresentam-se também em madeiras.
Desta forma, os blocos de granito são, substituídos por grossas tábuas ou barrotes de madeira. Contudo, as aberturas e elementos decorativos são escassos e de uma feição muito tosca. As portas são de madeira, de um único batente e sustentadas por duas ou mais dobradiças de ferro. Cada casa teria apenas uma porta, seguida por vezes por uma outra meia porta do lado exterior. As janelas eram constituídas por duas folhas, cada uma dividida em duas vidraças. Encontram-se também algumas situações em que as janelas são simplesmente “portadas de pau”.
Também característicos da zona são as “curraladas”/“lojas” laterais. Como são térreas, estas instalações encontram-se na continuidade da casa, adaptando-se a morfologia do terreno. Surgem consoante a necessidade de acolher animais e por vezes uma adega, servindo também para a recolha das alfaias agrícolas.
As coberturas das diversas construções são feitas de telhas caleiras, dispostas em uma ou duas águas. Normalmente, o telhado de uma água destina-se ás lojas e o de duas às habitações.
Devido a esta falta de planeamento, onde as construções vão aparecendo segunda as necessidades, uma vista geral das casas mostra-nos uma planta disposta de diferentes modos.
Esta região oferece pouca variedade quanto ao colorido das habitações e demais construções. Com efeito, as caiações resumem-se ás guarnições das portas e aos abrigos da entrada. As cores dominantes são as do granito amarelado ou cinzento, das caiações nas entradas e a cor alaranjada das telhas.
As ruas são estreitas e por vezes talhadas directamente nas rochas que formam o solo. Estas pequenas ruas dão serventia ás habitações sendo por isso regularmente percorridas pelo gado.
Nos socalcos da montanha, a necessidade sustentar as suas parcelas leva a que se construam contrafortes sob a forma de muros sendo estes, um acentuado de calhaus que as arestas cortantes do xisto pontilham de relevações e de tonalidades muito variadas. Acompanhando as curvas dos caminhos, ou cortando abruptamente quebras e esquinas, esses panos pintalgados, por vezes de alturas um pouco desconforme, são cortados em diagonal por uma série de blocos de granito salientes do muro que permite a passagem de uma parcela para outra.
Podemos então concluir que o património vernáculo é a expressão fundamental da identidade de uma comunidade, das suas relações com o território e, ao mesmo tempo, a expressão da diversidade cultural do mundo.
Este género de arquitectura nasce do “Povo e da Terra” e é projectada no modo como os materiais regionais se empregam e satisfazem as necessidades do momento.
O profundo estudo visual intercalado com o bibliográfico, permite-nos hoje identificar com maior clareza tipos e sistemas construtivos vernaculares que serviram como ponto de partida para o panorama actual da construção.


Bibliografia consultada

  • Almeida, Carlos de - Portugal arquitectura e sociedade, Ed. terra livre, Lisboa 1978
  • Aguilar ,José - Carrazeda de Anciães e seu termo, Esboço e subsídios para uma monografia, Colecção Silva Pereira, 1980
  • Caamaño Suarez, Manuel - A casa popular, museo do pobo galego fundacion caixa Galicia, 1997
  • Oliveira, Ernesto Veiga e Galhano, Fernando - Arquitectura tradicional portuguesa, Publicações D. Quixote, 1992
  • Lino, Raul -casas portuguesas (alguns apontamentos sobre o arquitectar das casas simples), Ed. cotovia, 1992
  • Ferreira, Cândida Florinda -Carrazeda de Ansiães (notas monográficas) col. Silva Pereira
  • Moutinho, Mário - A arquitectura popular portuguesa Ed. estampa, lisboa1979
  • Arquitectura popular em Portugal, associação arquitectos portugueses
  • ESPIGUEIRO - Central de Informações Regionais.htm




Francisco Oliveira Ferreira





Francisco Oliveira Ferreira nasceu no Porto em 1885 e morreu em 1957. Aos 24 anos ganha um concurso, a que também concorreu Ventura Terra, para o monumento comemorativo da Guerra Peninsular, em Lisboa, com um projecto que fundamentalmente se estrutura na movimentação de massas e volumes das várias figuras modeladas por seu irmão, o escultor José Oliveira Ferreira, aí ganhando o conjunto muito mais uma qualidade escultórica que uma qualidade arquitectónica.
Dos seus trabalhos convém salientar, por ordem, a Ourivesaria Cunha, na Rua do Loureiro, e a casa da Rua Pinto Bessa, n. o 498, ambas de 1913, o edifício da Casa Inglesa, na Rua Passos Manuel, de 1922, a casa de Saúde Alberto Gonçalves, na Avenida dos Aliados, do mesmo ano, e, entre 1926 e 1930, o projecto e construção do Sanatório Heliântia de Francelos, que será a sua obra-prima pela segurança
do desenho, pela funcionalidade da concepção e pela capacidade de modelar um espaço transição numa linguagem coerente e com seguro domínio da escala.


Conhecedor dos vários estilos, soube aplica-los ao gosto do cliente, havendo assimilado as técnicas emergentes e evoluindo com elas. Demonstrou-se Versátil na interpretação de estilos como o neo-manuelino ,a arte deco e a arte nova , não deixando de ser tradicional se assim o exigido foi experimentalista ou perseverante na procura de novas soluções .

Essa procura encaminhou-o para um modernismo já evidente e esclarecido no pensamento urbanístico, na implantação orientada pela luz solar no seu projecto do sanatório Heliântia, Onde além de tirar partido da potencialidade estrutural e compositiva do betão armado consegue uma concepção espacial mais objectiva e funcional.

Arquitectura Proto-Modernista em Portugal




Engenharia versus Arquitectura

No inicio do século a engenharia tomou vantagem sobre a arquitectura ,este facto era até bastante evidente nas preocupações da sociedade dos arquitectos portugueses numa carta dirigida ao rei d Carlos onde reclamam para a sua profissão, uma equidade em relação ao estatuto dos engenheiros mas sobretudo que as obras de arquitectura fossem executadas por arquitectos .
De facto foram dos engenheiros, muitas das obras feitas nesta época, estes baseados no desenvolvimento e utilização de novos materiais ,nomeadamente o ferro , impuseram novos sistemas estruturais na que foi denominada mais tarde de modo eufemista como arquitectura de engenheiro .
Se até então a concepção arquitectónica se baseava essencialmente na adaptação de um estilo e na composição passou desde aí a ser gradualmente substituída pela concepção estrutural .
Segundo Ana tostões: “Um recorrente debate na história da construção tem oposto o primado das formas ao das invenções estruturais. De um lado defende-se que as revoluções formais resultaram directamente dos novos materiais ou métodos de construção; do outro argumenta-se que as mudanças operadas na visão do mundo ou nas intenções estéticas apenas adaptam as técnicas ás intenções e objectivos expressivos.”
O surgimento em Portugal do elevador ,da luz eléctrica ou de garagens constituíram um factor de mudança , que se evidenciaram na concepção dos edifícios a construir .Os equipamentos de climatização e o desenvolvimento de novas soluções ao nível da permeabilidade térmica das fachadas travaram certas desvantagens climáticas.
No entanto, a maior inovação ao nível da estrutura e que veio realmente revolucionar o modo de construir deve-se numa primeira fase ao desenvolvimento de um cimento de grande resistência (Portland) e posteriormente à sua aplicação com inertes formando o que chamamos hoje de betão .onde depois de várias experimentações se concluiu ter ainda maior eficácia quando armado em ferro ou aço, o que veio permitir uma maior amplitude de vãos ,uma maior solidez construtiva e maior liberdade formal substituindo muito rapidamente os materiais tradicionais .
Ainda que inicialmente as aplicações de quaisquer novos materiais e tecnologias, tenham sido reservadas a edifícios ou estruturas de carácter utilitário ou público como pontes , gares e fabricas rapidamente se difundiram chegaram às habitações em geral mas porque ainda vivíamos um período de exploração revivalista e se procurasse apurar um estilo ou identidade pela plástica de fachada as primeiras construções não respeitariam a verdade dos novos materiais escondendo-o quase sempre debaixo de uma “cobertura “de feições românticas ou de carácter “neo “em voga nesta época .
E, como se verá, a construção foi encarada como uma composição em partes separadas e aparentemente autónomas que caracterizou o ecletismo de final de oitocentos não sendo apenas característico da "grande" arquitectura porque as próprias construções ditas "utilitárias" integraram igualmente essa dicotomia.
Durante os primeiros anos do século XX deu-se uma intensiva uma construção em betão armado, segundo o processo Hennebique, sustentada pela matéria-prima fornecida pela primeira fábrica de cimento artificial de Portugal em Alhandra que inaugurada em 1894. ao mesmo tempo que eram estudadas e testadas através da invenção de fórmulas matemáticas, cálculos e a experimentação de ruptura em laboratório permitem nessa altura a introdução do betão armado no ensino da construção. Vindo a ser Inicialmente aplicado apenas pontualmente em lajes de pavimentos sustentados por elementos verticais maciços em alvenaria.

Devido ao relativo atraso industrial em relação a outros países europeus, Portugal irá assim ser marcado por uma continuidade arquitectónica durante mais algum tempo limitando-se a prolongar as estéticas correntes de influência francesa, onde grande parte dos arquitectos da época fazem escola e a adaptar dentro do possível os novos equipamentos emergentes operando sobretudo na organização espacial doméstica da casa burguesa que reflectia novos costumes potenciados pelos novos dispositivos (da água corrente à campainha eléctrica, ou do telefone ao ascensor) e deste modo podemos afirmar que o caminho ficou traçado à espera de se redescobrir e algumas das obras deste período demonstram já o quanto os arquitectos desta geração o procuraram .